O Evangelho, o Alcorão, os textos taoístas e budistas garantem que a Luz sucede às trevas, dualidade universal do Yang e do Yin. O próprio Cristo dotou-se de apelativos simbólicos, tais como: ?Sol de Justiça, Grande Luz, Luz do Mundo?. A data estabelecida para o seu nascimento, 25 de dezembro, na Roma pagã, era a festa do Sol renascente, ou Solis Invictus.
A LUZ DA ÁRVORE DA VIDA: no centro do paraíso via-se a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Essa antiga lenda babilônica veio da antiga Mesopotâmia e foi atribuída à Epopeia de Gilgamesh. Uma outra árvore era venerada pelos antigos: o carvalho, que recebia o raio, a arma e o símbolo da Luz e do Fogo de Deus. Todas as mitologias consagram o lugar onde caía o raio.
O carvalho de Zeus em Dodona, de Júpiter em Roma, o carvalho de Perun entre os eslavos. A sarça ardente do Êxodo é uma manifestação de Iahweh a Moisés que, espantado, lhe perguntou: ?Qual é o Seu Nome?? E Iahweh lhe respondeu: ?Eheieh Asher Eheieh!? Traduzido por ?Eu Sou Aquele que Sou?. Melhor traduzido seria: ?Eu sou a Luz que É?. Também o Alcorão exalta ?a Árvore bendita?. A mesma imagem, a da Árvore da Vida, é encontrada na Cabala; dela emana ?o orvalho de Luz?.
Para René Guénon, essa Árvore é a oliveira, cujo óleo é utilizado na Luz da lamparina, Luz que vem de Alá ?e que é o próprio Alá?. Assim, a Árvore que dá a Luz é a própria Árvore da Luz. Na Índia, os Upanishads apresentam a Árvore da Vida como o próprio Brahma. O Alcorão afirma que há nisso ?Luz sobre a Luz?.
O mesmo Alcorão, na surata XXIV, que tem por título ?A Luz?, demonstra em 64 versículos, que ?Deus é o iluminador do Sol, da Lua dos astros, das criaturas celestes e terrestres e de tudo o que existe. Eis algumas das frases dessa surata: ?Deus é a Luz dos céus e da terra?; ?Deus guia para a Sua Luz quem Lhe apraz, e fala aos homens com alegorias?. AS LUZES DA IDADE MÉDIA: todas as soberbas catedrais góticas da Europa, construídas pelos maçons operativos, são luminosas. Iluminados eram também os seus construtores. Elas representam um autêntico hino à Luz. Nessas catedrais, os vitrais projetam raios de diversas cores: à tarde, ?as rosáceas iluminam os templos com os últimos raios do Sol poente?.
Essas rosáceas proporcionam às catedrais uma Luz feérica, digna da divindade, sob o signo da beleza da rosa. A Iluminação ao nascer do Sol inspirou os construtores a orientar esses templos para o Sol levante, assim como sobre o altar-mor, o oficiante se voltava simbolicamente para Jerusalém. ?Deus é Luz?, proclamou João. A Catedral, sua morada, resplandece com essa Luz.
ANÁLISE, FILOSOFIA E PSICANÁLISE DA LUZ E DA ILUMINAÇÃO: mais do que uma analogia, a semelhança do fenômeno físico da irradiação da Luz e do repentino afluxo psíquico dos eflúvios dos abrasamentos mentais, como os de Santa Tereza D?Ávila, são motivo de permanente pesquisa sobre a motivação desse duplo fato enigmático ? tanto um quanto o outro ? sobre a sua fonte e sobre a sua natureza. A Iluminação, que é o resultado dessa Luz do Espírito, resplandece como um sol que transfigura o sujeito sensibilizado, inconsciente, mas que tem o seu Conhecimento. Um sonho acordado. Uma exaltação que assombra os psicanalistas, tanto ela desconcerta a análise.
Essa transformação do ser procede, como na natureza, de três estágios: a penumbra e a noite fecham os olhos; o nascer do dia faz descobrir e discernir a matéria, o movimento, o acontecimento; depois, o banho de sol que amplifica, doura, transpõe tudo através do seu brilho, e cria no homem um deslumbramento. Da mesma forma, o espírito confuso, lerdo, e até incompreensivo, desperta com certos agentes, move-se e progride, torna-se mais leve, raciocina, vê mais claro; ele sai da noite para chegar a clarões de inteligência; enfim, ele se irradia, se magnífica, se sublima. ?Ciência! Clarões fulgurantes!?, exclamava René Descartes. ?Possessão dos mundos interestelares!?, exclamava Goethe, que ao morrer, pedia: ?Luz, mais Luz?.
Se os olhos do corpo sabem distinguir os objetos, os olhos do Espírito redobram as suas faculdades; a dupla visão magnifica o sujeito; muitas vezes, ele acreditará estar vendo, não pelo sentido visual, mas pela inflamação exaltante de sua visão interior. O ser humano, exaltado pela Luz, elevado, transportado, como em estado de levitação, dirige-se para uma transcendência que será mística, metafísica ou artística. Um outro fato a observar é a propensão natural do homem para procurar a Luz.
No século XVIII, a Luz foi um fogo do espírito que conjugava ao mesmo tempo um fervor intelectual, que descobre nos caminhos cartesianos o gozo do raciocínio livre, os imensos horizontes da ciência, das novas possibilidades humanas, devidas a uma evolução e a uma revolução morais, em que tudo se tornava possível; e, também, ao mesmo tempo, com esse fogo de artifício do espírito, aparecem um fervor e um refúgio nas fraternidades iniciáticas iluminativas, cujos maravilhosos segredos da Gnose os rosa-cruzes e os maçons detinham nos seus Rituais.